"Diga-me mais, cavalinho: o que é a dor de um homem quando não há ninguém por perto? Um homem, por exemplo, que caiu num buraco muito fundo e quebrou as duas pernas. Talvez essa dor devore a si mesma, como uma cobra se engolindo pelo rabo.
"Mas tudo isso é nada. Não se parem as coisas por causa de um cavalo. Não se param as coisas nem mesmo por causa de um homem ... Mas por que seria indigno de um ser humano puxar uma carroça? Por que não seria indigno também de um cavalo?" (Sérgio Sant'Anna, Conto (não conto))
Este conto de Sérgio Sant'Anna é quase uma coisa de filosofia. Ele sempre está escrevendo coisas como, "São nada. Ou tudo", e "Um pouco mais que nada. Ou muito, não se sabe". Eu acho este citação interessante porque faz os leitores pensar sobre a importância da vida; não somente da vida humana, mas da vida de qualquer ser. A narração aqui é como Juliet, em Romeo and Juliet de Shakespeare, dizendo, "O que nós chamamos uma rosa/Por qualquer outro nome cheiraria como o doce". Certamente se um homem cai num buraco fundo e quebra as duas pernas vai se sentir muita dor. Mas se nenhum de nós estamos por perto, como saberemos que ele está se sentindo dor? Como saberemos que ele existe mesmo? Mesmo assim, ele está com muita dor, quer saibamos ou não.
Continuando, o Sant'Anna afirma que as coisas não se parem por causa de um cavalo nem por causa de um homem. Se as coisas vão se parar, certamente nós pensariamos que seria para um homem, porque o homem domina o planeta. No entanto, as coisas não se param por ele, então podemos acreditar que a vida do homem é mais importante do que a vida do cavalo? O Sant'Anna acredita que não. Ele afirma isto quando ele continua com a última parte desta citação. Se a vida do homem não é mais importante no grande esquema das coisas do que a vida do cavalo, por que o homem teria vergonha de puxar uma carroça? O cavalo puxa a carroça sem nenhum sentimento de indignidade ou vergonha. Eu acredito que isto pode ser porque a inteligência do homem faz com que o homem é o único ser que consegue pensar que existem tarefas próprias para os animais, e existem tarefas próprias para os homens. Se uma tarefa está delegada para um animal, o homem estaria regredindo ao fazer a mesma tarefa. Mas tudo isto somente vem da mente do homem, porque qualquer outro ser não se importaria com estas tipas de coisas.
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